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Juros baixos impulsionam venda de títulos de risco pelas empresas

Taxas de juros persistentemente baixas vêm motivando o apetite dos investidores por rendimentos elevados.

As empresas estão vendendo títulos de dívida de risco em volumes recordes este ano, uma vez que os juros baixos estão estimulando o apetite dos investidores. E isso vem ocorrendo mesmo com os problemas provocados nos mercados de dívida nas últimas semanas, pelos temores em relação aos bônus gregos.

 

As emissões globais de bônus que não atingem a classificação de investimento, conhecidos como "junk bonds" ou "high-yield", totalizaram US$ 67,8 bilhões no fim do primeiro trimestre - um recorde histórico para os primeiros três meses do ano, segundo a Thomson Reuters.

A explosão dos junk bonds vem sendo conduzida em parte por companhias apoiadas por firmas de private equity (investimentos em participações), que estão refinanciando volumes enormes de dívidas que elas assumiram durante o boom das aquisições da última década. Essas companhias querem antecipar-se a um chamado "maturity cliff" (um pico de vencimentos) de empréstimos relacionados para a realização de aquisições alavancadas, que ocorrerá entre 2012 e 2014. "Esse refinanciamento estará em pauta por muitos anos", diz John Cokinos, diretor de mercados de capitais de alto rendimento do Bank of America Merrill Lynch.

Taxas de juros persistentemente baixas vêm motivando o apetite dos investidores por rendimentos elevados. Eles estão saindo dos fundos mútuos e passando para investimentos que proporcionam retornos mais elevados, como os junk bonds.

Enquanto isso, o crescimento econômico e a receptividade dos mercados de capitais estão melhorando as perspectivas para as empresas com classificações de crédito mais baixas. As taxas de default deverão cair para menos de 5% este ano, contra o pico de 14% registrado em nível mundial no ano passado, segundo prevê a agência Moody's Investors Service. Essas condições ajudaram os mercados de junk bonds a passar por um período aquecido que durou um ano, até o surgimento de uma onda de aversão ao risco no mês passado, por causa dos problemas da Grécia com seu endividamento.

Mas houve recuperação rápida do sentimento do investidor, que criou até março uma demanda por mais de US$ 30 bilhões em títulos de dívida, fazendo dele um dos meses de maior atividade já registrados nesse mercado. Companhias que venderam bônus em março incluíram a Consol Energy, mineradora de carvão dos EUA , que vendeu US$ 2,75 bilhões para viabilizar uma aquisição, enquanto a Lyondell Chemical emitiu bônus por estar saindo de concordata. A International Lease Finance, unidade de leasing de aviões da AIG, também refinanciou dívidas que já tinha. "Os negócios de risco estão de volta", diz Mark Vaselkiv, gerente de portfólio de alto rendimento da T Rowe Price.

Nos EUA, os investimentos em junk bonds proporcionaram um retorno de quase 60% nos últimos 12 meses, segundo um índice do Bank of America Merrill Lynch. Mas os ganhos elevados e a onda de oferta do último ano levaram a alertas de que os investidores estão empenhados demais na busca de desempenho e que essa fase de aquecimento poderá perder força em breve. O ritmo tórrido de emissões segue-se aos US$ 176 bilhões emitidos no ano passado, o segundo maior volume anual já registrado, segundo observa a Thomson Reuters.

O mercado vem apostando ultimamente em uma alta das taxas de juros oficiais, o que poderá significar alta nos custos dos empréstimos para as companhias com classificação abaixo do grau de investimento, embora alguns gestores de bônus continuem otimistas. Historicamente, o crescimento econômico sempre favorece os segmentos mais arriscados dos mercados de crédito, mesmo com aumento dos juros.